PUGWASH BRASIL

HISTÓRIA DO PUGWASH

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Desde o início da era nuclear, muitos cientistas envolvidos nas descobertas que conduziram ao conhecimento atômico perceberam o potencial destrutivo advindo destas extraordinárias conquistas científicas.

O ambiente competitivo do período da Segunda Guerra Mundial – os nazistas foram os primeiros a buscar o conhecimento nuclear bélico - alertou cientistas de diversos países de que o potencial uso destrutivo da ciência atômica poderia ser um desdobramento natural das descobertas das propriedades do átomo.

A competição pelo desenvolvimento de um primeiro artefato atômico foi ganho por um projeto conjunto americano/britânico conhecido com Projeto Manhathan. Envolvendo milhares de cientistas e técnicos em diferentes laboratórios espalhados pelo território dos Estados Unidos bem como uma enorme soma de recursos, o primeiro e bem sucedido teste de um artefato atômico ocorreu no deserto do Novo México em julho de 1945. Nascia a era nuclear.

Menos de um mês após o teste, duas bombas atômicas foram lançadas pela Força Aérea americana nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, em 6 e 9 de agosto respectivamente, comprovando o imenso poder destrutivo, antecipado e temido por alguns dos cientistas envolvidos.

Antes mesmo do uso das duas bombas no Japão, alguns cientistas haviam se imbuído do espírito de alertar os governos dos riscos envolvidos no seu uso para fins militares. O Relatório Franck, elaborado por cientistas da Universidade de Chicago, que temiam o uso de armas atômicas, foi entregue ao presidente Truman em junho de 1945. A partir de então, um número crescente de cientistas passou a se envolver diretamente na tentativa de evitar que as já denominadas armas de destruição em massa fossem usadas como armas de guerra.

O período que se seguiu ao fim da Segunda Guerra Mundial – Guerra Fria – assistiu a uma intensa e perigosa competição armamentista entre dois blocos antagônicos liderados por Estados Unidos e União Soviética. O acirramento das disputas geopolíticas e ideológicas conduziu, na década de 1950s, ao aumento do risco de uso das armas de poder destrutivo cada vez maior. O avanço do conhecimento científico das consequências do uso das armas nas duas cidades japonesas, bem como a multiplicação do poder destrutivo dos artefatos, alertou muitos cientistas a procurar aprofundar o trabalho de educação da opinião pública e a procurar influenciar os governos a negociar para conter estes riscos.

Nos Estados Unidos, a revista Bulletim of Atomic Scientists havia sido criada em 1946 pelo químico Eugene Rabinowitch (1901-1973) com o objetivo de informar e educar cientistas e o público em geral sobre os riscos associados aos artefatos nucleares. Muitos cientistas e humanistas continuavam procurando atuar junto aos governos, partindo do pressuposto de que como cientistas teriam sido os responsáveis, em última instância, pelas descobertas científicas que levaram ao imenso poder destrutivo das novas armas. Assim, teriam maior responsabilidade de alertar as sociedades e influenciar governos em prol da moderação, da diplomacia e da negociação.

No Reino Unido, o filósofo, matemático e humanista Bertrand Russell tomou a iniciativa de, junto com Albert Einstein, elaborar um Manifesto de esclarecimento e alerta sobre os riscos de uma guerra nuclear. O Russell-Einstein Manifesto (disponível em https://pugwashconferences.wordpress.com/1955/07/09/london-launch-of-the-russell-einstein-manifesto/), assinado por dez eminentes cientistas, foi cuidadosamente apresentado ao público britânico em julho de 1955, causando grande impacto na opinião pública britânica e mundial. Lembramos que esta foi a última manifestação pública de Albert Einstein que veio a falecer poucos dias após o lançamento do Manifesto.

Junto com Lord Russell na apresentação do Manifesto em Londres estava o físico britânico de origem polonesa Joseph Rotblat (1908-2005). Figura chave do movimento Pugwash, Rotblat foi o membro mais ativo e consistente do Pugwash e ganhador do Prêmio Nobel da Paz, repartido com o próprio Movimento Pugwash, em 1995.

O nome Pugwash deriva da vila canadense onde se deu o primeiro encontro de 22 cientistas dos dois blocos da Guerra Fria em julho de 1957, como resultado do impacto causado pelo Manifesto Russell-Einstein. O financista canadense Cyrus S. Eaton financiou a ida de cientistas de diversas partes do mundo e disponibilizou sua fazenda nesta vila da província de Nova Scotia no Canadá. Cientistas da Austrália, Áustria, Canadá, China, Estados Unidos, França, Japão, Polônia, Reino Unido e União Soviética se reuniram para debater os temas prementes da Guerra Fria concernentes aos armamentos de destruição em massa, incluindo não apenas as armas nucleares mas ainda as armas químicas, biológicas e radioativas.

Neste primeiro encontro foi acordado que uma organização de cientistas deveria ser formada com o intuito de dar continuidade à iniciativa. Denominou-se “Pugwash Conferences on Science and World Affairs” a organização criada neste primeiro encontro.

A promoção de encontros periódicos teve como intuito principal a troca de ideias e experiências entre cientistas dos dois lados da Guerra Fria preocupados com o uso militar de suas descobertas, buscando influenciar os respectivos governos e estabelecer canais de diálogo em uma conjuntura internacional belicosa e que tendia à radicalização. Em segundo lugar, cientistas do mais alto nível procurariam propor iniciativas concretas visando o controle de armamentos entre os dois blocos como forma de minimizar os riscos. O tratado de proibição parcial de testes na atmosfera, entre outros mecanismos de controle de armamentos, contou com subsídios oferecidos pelos cientistas envolvidos nos debates promovidos pela Pugwash. Medidas visando a construção de confiança entre os dois blocos também constaram do arsenal de medidas oferecidas. Em terceiro lugar, o papel dos cientistas na sociedade, as relações entre conhecimento e poder e a educação do público e dos governos para os temas dos armamentos, da paz e da guerra passaram a ser temas sempre presentes nos debates.

Desde 1957, o Pugwash vem promovendo centenas de seminários, encontros, debates e iniciativas de toda ordem visando reunir os interessados nos grandes temas da ordem internacional. Nenhum tema, no entanto, adquiriu, no contexto conturbado da Guerra Fria e na ordem não menos confusa do pós-Guerra Fria, tanta relevância como a necessidade de abolir a guerra como forma de dirimir as disputas e os conflitos entre as nações. O Pugwash Internacional e as mais de quarenta representações nacionais estabelecidas desde então procuram manter acesa a chama dos debates, das iniciativas e dos encontros. A este processo se soma, agora, o Pugwash Brasil.

Publicada em: 20/02/2019 | Seção: HISTÓRIA DO PUGWASH


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